A entrevista de hoje é algo improvisado, fruto de uma conversa maravilhosa que tive com a Fabiana Ribeiro, proprietária do Café com Gato. Inicialmente a conversa seria mais voltada para o café e o seu funcionamento, mas, quanto mais a Fabiana contava a sua história, mais impressionada eu ficava com a sua coragem e perseverança. Pioneira no ramo de cat cafés no Brasil, a empresária enfrentou diversos obstáculos até conseguir abrir sua primeira loja na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo.
Além de sua garra, o que mais me impressionou durante o nosso encontro foi o grande amor que ela sente por esses animais.Gateira de carteirinha, seus olhos brilhavam cada vez que ela falava sobre a sua paixão por felinos e como todo esse afeto foi essencial na sua mudança de carreira e abertura do seu negócio. Também pude presenciar sua devoção e preocupação com todos os gatos que habitam o café -especialmente com Bombom, uma gatinha paraplégica extremamente simpática. Um zelo tão grande que se intensificava ainda mais quando ela falava no projeto para abrir franquias e como o bem-estar dos animais estava acima de qualquer questão lucrativa. Na época em que conversamos – no final do ano passado- ela ainda não havia fechado a sua primeira franquia, que será aberta esse ano na cidade de Campinas, sua terra natal.
Se você ainda não conhece o Café com Gato, você pode ler o post de recomendação que escrevi sobre o estabelecimento aqui no blog, dar uma conferida na página da cafeteria no Facebook ou segui-los no perfil do Instragram. E se você é da região de Sorocaba e quer adotar um gatinho, eles fazem um trabalho incrível de divulgação de felinos para adoção em suas redes sociais.
Agora, sem mais delongas, Fabiana e sua incrível história.
Como começou
“Eu sou gateira e nunca estive em um cat café no exterior, mas eu já tinha visto tanto em revistas como em páginas da internet. Quando você é mordido pelo vírus felino, eu acho que é isso que difere o dono do gato para o dono do cachorro: pesquisa. O dono de gato pesquisa mais, vai mais atrás de informação. O pessoal sempre me pergunta a diferença de dono de cachorro e dono de gato e eu li uma frase muito interessante de um calendário -‘365 dias Com Meu Gato’, que cada dia tem uma frase diferente- que definia isso muito bem: ‘Existem muitos apaixonados por cães, mas muitos obcecados por gatos.’
Realmente o gateiro é obcecado. Começa a usar brinco de gato, blusa de gato, sapato… tudo de gato. Tem até que tomar cuidado na hora de se vestir!
Então, a gente pesquisa muito e eu já tinha visto esse conceito no exterior, que começou no Japão e depois eu fui acompanhando outros países: Inglaterra, Áustria… E eu trabalhava em um multinacional, era coordenadora de compras e nós passamos por um episódio lá na empresa, que tinha uma gatinha que já morava lá fazia uns 14 anos. Ela nasceu na empresa e cresceu lá. O ‘pai’ dela – como a gente brincava- procurou ajuda porque um dia ela foi atacada por algum bicho. Pelos cortes, a gente achava que tinha sido um gambá que brigou com ela por causa de comida. Ele me pediu ajuda para socorrer a Neguinha (a gatinha) e o pessoal questionou porque eu havia largado o meu trabalho para cuidar da gata. Depois o Rh veio brigar comigo porque eu havia saído 15 minutos antes do almoço para levar ela para fazer curativo. Um dia, no consultório onde ela ia fazer curativo todos os dias, me deu um estalo: ‘Se eu gosto tanto de gatos, eu preciso fazer alguma coisa que envolva gatos’.
Eu conversei com a veterinária e ela me deu a ideia de investir em hotel, pois não havia um na região. Como mãe de gatos, a ideia de hotel não me agradou muito, pois eu sei que para o animal é ruim para sair do ambiente dele. E pensando me veio a ideia de fazer o café.
Joguei na internet e vi que não tinham nenhum no Brasil e isso me chamou a atenção. Fui na Vigilância Sanitária logo que me veio a ideia e fui informada que no Brasil não é permito animais onde se tem alimentos. Não é só em Sorocaba, é a legislação brasileira. Eu já estava vendo casa, já estava até pensando em data de inauguração… saí de lá chorando, meu marido nesse dia até achou que eu fosse desistir da ideia porque a Vigilância não estava permitindo. Eu fiquei pensando em um restaurante que eu gosto muito e lá tem um aquário, então eu pensei em um aquário de gatos. As pessoas não vão poder interagir, mas todos poderão conviver com eles.
Eu já tinha visto imóvel aqui em Santa Rosália, pois eu sempre vinha do meu bairro para cá para assistir missa. Eu comecei a ver em abril, mas só consegui fechar em novembro.
Eu já tinha visto que tanto o mercado de cafeterias como o mercado pet são crescentes e que gato é um mercado em crescimento, e meus pais… meu pai principalmente, porque minha mãe me apoiou. Ele não era muito a favor, pois eles são comerciantes e eles sabem que é uma vida difícil. É complicado, pois você não tem a quem se comparar, pois o nosso era o primeiro. Não dava nem para se comparar com exterior, porque, querendo ou não, o nosso aqui ia ser diferente. A gente não sabia como as pessoas iam aceitar um cat café sem acesso aos gatos. Então, era tudo muito incerto, mas estamos aí, há dois anos e meio.”
Experiência como empresária
“As pessoas me perguntam se eu me arrependo, por conta do (antigo) cargo, do salário. Eu estava me preparando para ser uma diretora de suprimentos, já trabalhava em multinacional havia muitos anos… então foi muito rápido, mas não me arrependo.
Não é fácil, pois a gente começou em um ano que já se falava em crise financeira, mas temos resultados e números muito mais interessantes e atrativos do que imaginávamos. Com menos de um ano, tínhamos conseguido muita mídia espontânea e já apareciam interessados em franquias, então estamos correndo atrás.”
O aquário
“Quando eles (a Vigilância Sanitária) aprovaram, eu fiquei bem tranquila e eu pensei ‘Depois que eu tiver o alvará, entro com um processo para revisar o projeto’, mas com um mês de funcionamento eu tinha percebido e falado que não ia mais mudar. Tem algumas situações que depois a gente começou a imaginar e que para eles (gatos) também não ia ser legal. Comercialmente falando, também não ia ser legal, porque tem algumas pessoas que gostam de gatos, mas não querem eles perto da comida. E na situação que ficou, a gente consegue atrair quem gosta de gato e quem não gosta, quem tem alergia, quem tem medo…”
A Yoga com Gatos
“No nosso cardápio tem uma parte de avaliação e adivinha o que a gente mais recebe? ‘Eu quero pegar nos gatos’,’Amei o lugar, mas queria pegar nos gatos’ ou ‘Os gatos tinham que ficar soltos’. Eu vi na internet que um pessoal nos Estados Unidos levou alguns gatos de um abrigo para participar de uma aula de yoga com a intenção de que eles fossem adotados e isso incentivasse a adoção. Eu tinha até falado com o pessoal de uma academia, mas eu sou meio preocupada com as decisões que são tomadas no impulso do momento, então eu pensei ‘Se a aula de yoga fosse feita aqui dentro?’, pois era uma oportunidade das pessoas conhecerem os nossos gatos e por meio de um sorteio – que é a forma mais democrática que eu acho que existe. Assim também não fica uma visita desproposital e ela levo à uma prática que combina com gato.”
As futuras franquias
“Logo no começo, os consultores vinham cheio de ideias, como fazer intercâmbio entre os gatos dos lugares, mas eu boicoto porque a prioridade é o bem-estar dos animais. Tem uma série de itens que devem ser levados em consideração e tem que entender de gato. Tem que estar no local e acompanhar o que está acontecendo, pois é um desafio bem grande.”
O atendimento e produtos oferecidos no café e na loja
“A maioria dos retornos são positivos, mas eu sou bem chata. A pessoa vem a primeira vez por causa dos gatos ou porque alguém recomendou. Se ela achou legal, ele até volta para ver os gatos de novo, mas uma terceira vez não vai ser pelos animais, pois eles vão ser sempre os mesmos. Então, eu sou muito chata com os produtos que a gente escolhe para vender e com a comida também. Eu sempre experimento tudo e prezamos muito pelo atendimento.”
Matéria: Café das Minervas